Who cares

Seja um bom leitor e se indigne com esses disparates postados aqui!

sábado, 10 de março de 2012

Feminismo e ciência: uma visão sociológica



A Revolução Francesa de 1789 reformulou a sistema político vigente da França, através de uma intensa mobilização social que tinha como princípios a liberdade, a solidariedade e a igualdade. Mesmo tendo sido fomentada pela nobreza de tais sentimentos, a proclamação dos direitos universais, resultante dessa revolução, não incluiu as mulheres em pé de igualdade em suas disposições. Foi diante dessa injustiça, centrados em uma intensa crítica às origens da democracia, que foram constituídos os primeiros movimentos feministas do mundo. Desde então, período historicamente marcado pelas revoluções democráticas, a mulher, organizada em dinâmicas e grupos de contestação, vem unindo forças para lutar em função do reconhecimento de seus direitos, desafiando os paradigmas excludentes e obsoletos da sociedade em que vive.

A partir da segunda metade do século XX, aliado à produção intelectual, o feminismo deixa de ter um caráter simplesmente reivindicador, para se tornar um movimento mais politizado e satisfatoriamente munido no combate às estruturas de dominação_ entre elas, a própria ciência. Em relação a esse aspecto do movimento, o desenvolvimento científico que acarretou na criação de novas tecnologias reprodutivas foi o um dos focos principais das análises e questionamentos das cientistas feministas.

A atualidade apresenta aspectos interessantes no âmbito das novas configurações da família e dos meios de reprodução humana. No quesito maternidade, a ciência tem produzido recursos que possibilitam à mulher um variado leque de opções para contracepção e até mesmo para fertilização do óvulo. Em uma análise superficial seria fácil concluir que todos esses avanços têm ajudado a mulher a administrar melhor sua saúde, dando-lhe maiores possibilidades para o controle de uma gravidez indesejada, ou mesmo, em casos de infertilidade, a tão sonhada concepção de um embrião. Porém, para muitas intelectuais feministas, como a antropóloga Naara L. de Albuquerque Luna, a aplicação de técnicas reprodutivas merece uma atenção mais minuciosa, uma vez que ainda não são claros os efeitos e os custos reais de tais métodos.

Muitas mulheres são fortemente impelidas pela necessidade de procriar. É justamente fundamentada nesse desejo que a indústria farmacêutica tem desenvolvido e propagado técnicas e medicamentos capazes de instaurar na consciência coletiva a idéia de que, a partir de um determinado investimento, a gravidez se torna um produto fácil de se alcançar. O confronto com esse comportamento é o que tem motivado muitas feministas à análise dos procedimentos medicinais ligados à fertilidade prescritiva. Em observação a essas preocupações é notória a necessidade de se estudar esses fenômenos, para então saber em qual medida eles são realmente necessários à sociedade.

No sistema capitalista, de acordo com a abordagem marxiana, a lógica da economia se dá em favor da maximização dos lucros dos proprietários dos meios de produção. Ou seja, o mercado não se apóia somente nas necessidades existentes da sociedade, mas também incita a criação de novas demandas, que vão incutir nos consumidores o desejo pela aquisição de produtos e bens que não lhe são verdadeiramente essenciais. Tendo como fundamento essa linha de pensamento, pode-se afirmar que o fenômeno relacionado à propagação de técnicas que, em casos de esterilidade, prometem o milagre da concepção são na verdade meios pelos quais determinados segmentos do mercado (leia-se indústria farmacêutica e prestadores de serviços ligados a área de saúde no setor privado) impõem suas leis de dominação.

Hoje, o movimento social que visa à valorização da “mulher-sujeito”, e não somente ele, como também todos os segmentos capazes de produzir o saber científico precisam estar atentos à forma como as questões de gênero são manipuladas pelos mecanismos opressores da sociedade. É preciso estar ciente de que os comportamentos considerados inofensivos e até mesmo aqueles que apresentam certa “utilidade social”, precisam ser estudados de forma a elucidar todos os seus meandros. Em uma sociedade tão complexa como a atual, é imprescindível estar a par de como e por quem foram compostas as historicidades manifestas nos mais variados fatos formadores da realidade.

Um comentário:

  1. A ciência é incrível, mas aliada ao estado ela perde, e muito. Imagina os machistas aristocratas ganhando em cima de necessidades atuais da mulher, aproveitando-se mesmo. Legal, mas na perspectiva moral isso seria hipocrisia.

    ResponderExcluir