Who cares

Seja um bom leitor e se indigne com esses disparates postados aqui!

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Insônia

Essa insônia não me maltrata, ela é minha amiga, ajuda a despertar minha vontade de potencia, faz um melhor reflexo do meu dia, e depois dela tudo é apenas um sonho, um despertar que é o dia. Enquanto estou aqui, penso na vida, naquela calçada que hoje sentei, na conversa que tive com meus amigos, quantos cigarros fumei e quantos minutos de vida perdi. Penso nas possibilidades, nas frustrações que quase não tenho, em tudo que me disseram, penso, penso e imagino, virtualizando o futuro, sonhando acordado com o presente, e foi assim...

segunda-feira, 16 de julho de 2012

     Sou uma fraude. E isso qualquer boboca é capaz de notar. Não adianta. Todas as minhas tentativas são vergonhosamente frustrantes. As pessoas cospem palavras sem ao menos pensar bem o que elas podem significar. Meu amigo, hoje mesmo inclusive, me disse "Caralho bicho, eu conheci a mulher ontem, transamos e ela já diz que me ama. Amor não é só pau e buceta". 
   Evitei olhar qualquer coisa que fosse no blog dela, as bizarrisses nem tão literárias assim que ela pensa. Evitei até mesmo sair de casa para não ter que encontrá-la. Mas não adiantou. Ela teve que ir em minha casa para me enganar e se divertir com a minha loucura comportadinha.
  Fingi não ligar muito e respondia tudo de maneira grosseiramente educada, mas nesse jogo eu sempre perco. Na verdade eu sempre perco em qualquer jogo. A sorte não me ama. Eu só queria te amar mais no intervalo entre um cigarro e outro, mas você sempre vai me roubar um cigarro e eu vou sempre fingir que não percebo. 

domingo, 8 de julho de 2012

Um dia a gente cansa



     Não se passaram nem quatro horas e eu já esqueci de quando você tentou me matar - pela segunda vez, inclusive. Tento lembrar, mas não consigo; não consegui manter a raiva que senti de te mandar pro inferno também. Agora eu te vejo aqui na minha frente, junto comigo de novo. Há quatro horas eu queria você na puta que pariu, mas agora eu te quero fazer a mulher mais feliz do mundo, dar ao máximo o que sou capaz. Mas então o que aconteceu pra eu mudar de opinião assim num período tão curto de tempo? Sei lá! 
     Talvez eu seja mesmo o mais otário entre todos os otários da humanidade, mas e daí? Hoje eu tomei sorvete e até fui amável com as pessoas. Um dia você passa além dos limites que eu posso suportar e aí será eu quem vai vencer. Deixa pra lá. Você não entende e eu estou usando as palavras erradas pra dizer o que eu quero que você entenda.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Poesias de momentos

Momentos

I

Em instantes de vazios,
resta-nos o observar,
o absorver e o viver!
Mas nunca inexistência.

Negar a existência é
                   negar-se!

II

As vezes parece confusão,
alias, é em si, e, por si
própria contraditória.
Nunca se encontra,
ficando apenas
em olhares.
quereres,
desejos...

Sim! é o momento,
ele por si só
é inseguro
de falares!

III

E a vida corre,
esconde-se,
refugia-se!
Ela está?
- Não está!

E lá vai o mundo
girando, girando!
E eu girando,
ora, como não?
Eu sigo o que sigo
e o que não sigo.
Tento ser conciso,
mas não consigo!
- Impossível!?

IV

 O movimento
é o momento,
por mais
que eu pense no depois
prefiro o momento,
tanto como referencial
quanto norteador.
Estou pouco me fudendo
para quem não acredita,
é claro!
O momento é algo
importante,
sublime,
superficial.
E o que mais
me importa
é sua...
(in)perfeição!

V

Declaro-me
nestes versos
tão loucos
quanto o dia
raiando horizontal!

Declaro-me
em linhas tortas,
quase mortas,
sobreviventes,
de bainhas
degastadas
pelo tempo
de espera, claro!

finale: O quê?

texto: Edu Cuia

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Antes de "On the road" - Abril despedaçado


Neste ano é a estreia do novo filme do diretor Walter Salles, que tem muitos sucessos como "Central do Brasil" e "Diário de Motocicleta" e atualmente com um novo filme que promete "On the road" baseado na grande obra do mestre beat, Jack Kerouac. Bem, mas antes de tudo gostaria de falar, em que minha opinião é uma obra sagrada do diretor brasileiro: Abril despedaçado.




Abril Despedaçado é um filme em que o diretor Walter Salles mostra um Sertão na perspectiva de uma briga entre famílias que atravessa gerações, onde Tonho (Rodrigo Santoro) tem a obrigação de vingar a morte de seu irmão quando o sangue da camisa esticada ao vento amarelar. A trama é narrada pela figura do personagem “Menino” ou "Pacu" (Ravi Ramos Lacerda) que quebra as barreiras emotivas dos expectadores com sua poética nua e crua que causa confusão nas mentes que se perguntam: o que é o menino? é um herói? é um rebelde que se rebelou com a autoridade de seu pai? não se sabe.
O cenário de Abril Despedaçado é o Sertão Nordestino com o visual amarelo que faz combinação com o sangue e as roupas sujas e imundas. O tempo parece ser sempre o mesmo, pois as ações são  repetitivas, os personagens principais levam uma vida alienada, pois assim como os bois eles giram, giram e giram em torno da máquina de moer cana (suor, sangue) e nunca saem do lugar.


Texto: Edu Cuia
Fonte: http://puraque.org.br/cineclube/

terça-feira, 5 de junho de 2012

Já volto


     Quando a única coisa que faz sentido na vida são coisas inúteis é sinal que a vida já acabou há muito tempo. Ultimamente, a falta de sentido em tudo é tão evidente que chega a ser notável até mesmo nas coisas mais simples. Me mataram num domingo triste, nem sequer me enterraram e agora sou apenas um corpo cheio de ossos chacoalhando por aí. Não tem problema. Então é só isso. O que sobrou de mim não dá pra continuar numa vida decente... O jeito é persistir. Um brinde em homenagem a vida que já morreu. Adeus. 

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Toda Forma de Amor (The Beginners): minhas impressões.


Oliver (Ewan McGregor) é um jovem contemporâneo norte-americano. Classe média, mora em uma linda casa em Los Angeles, trabalha como designer numa empresa do momento, é inteligente, elegante, bonito e infeliz. São as reflexões e memórias desse moço apático que dão forma e sentido ao filme Toda Forma de Amor (The Beginners, 2010), uma obra que, de modo geral, podemos dizer, está debruçada sobre a complexidade hodierna das relações familiares. O pai de Oliver, o curador de arte Hal Fields (Christopher Plummer, ator que ganhou o Oscar por sua atuação coadjuvante nesse filme) vive seus últimos momentos de vida, vez que sofre com um câncer terminal. O trágico, no entanto, não reside na eminência da morte de Hal, homem de terceira idade que atravessa por um processo relativamente natural de fenecimento. O trágico em The Beginners está na ironia cruel que envolve a família de Oliver. Após a morte de Georgia (Mary Page Keller), a sua mãe (um acontecimento apenas citado no filme, mas não tratado de forma muito objetiva - o enredo da obra se constrói mesmo em torno da morte do pai de Oliver), Hal decide revelar para Oliver que é gay. Essa revelação provoca profundos impactos na sua vida, fazendo com que ele comece, então, a entender melhor o vazio sobre o qual, durante 40 anos, constitui-se o casamento de seus pais.
The Begginers é estruturado em uma linguagem não linear, que, portanto, trata a cronologia da vida de seus personagens de forma difusa, quase líquida. Um recurso que, antes de confundir, faz com que o espectador mergulhe no universo sincrônico da obra - tão sutis são as fronteiras entre o presente e o passado na realidade de Oliver. Dessa forma a audiência é levada a perscrutar a autoafirmação tardia de Hal, assim como as dificuldades que esse homem, no alto de seus setenta anos, enfrenta ao exercer sua identidade gay, em um mundo dominado pela juventude.
A incursão de Hal no mundo gay é objetivada a partir das memórias de Oliver, que narra a transformação do pai por meio de um tom levemente perplexo, mas, de certa forma imparcial, quase frio.  Esse elemento do filme lhe confere seus momentos mais cômicos, dada a forma leve, porém não menos livre de um não sei o quê de tristeza e decadência, com que a imersão de Hal no circuito homossexual de Los Angeles é retratada. Cristopher Plummer compôs um homem menos amadurecido pelo exercício de sua natureza do que pelas experiências infelizes da repressão sexual de uma sociedade puritana.  Um personagem muitas vezes inocente e deslumbrado diante das novidades de uma vida a qual, até então, só tinha sido possível conhecer as sombras.
Hal passa a participar de coletivos GLS, namora um rapaz 40 anos mais jovem, e assume o hábitus de senior gay com o qual sempre sonhou.  Vive seu auge pessoal durante quatro anos, até descobrir que está com seus dias contados. A vida na qual havia tão recentemente principado, como um jovem no limiar de seus caminhos – a beginner - teria que ser interrompida de forma inexorável.  Ele compartilha essa realidade trágica apenas com seu filho, o nosso narrador, que passa, com isso, a carregar nos ombros toda a infelicidade com a qual, acredita ele, estiveram entretecidas as existências de seus pais.
Diante da constatação de uma realidade subterrânea no seio de sua família, Oliver começa questionar a lógica sob a qual se apresentava a versão “oficial” dos fatos que, até então, fundamentavam o seu modo de ver e viver no mundo.  Esses novos dados o fazem viajar de volta para o mundo solitário de Georgia, a sua mãe, e testemunhar, mais uma vez, e então incisivamente, a forma como ela estava presa a um casamento automático e sem vida. Oliver faz uso da memória coletiva de seu tempo - o espírito impresso nos jornais, nos filmes e nos anúncios publicitários - para nos dizer como os imperativos sociais foram preponderantes para confinar a identidade sexual de Hal. Ele mostra, através desses recursos relativamente externos ao caso, a forma como a sociedade norte-americana operava na a concepção de um modelo padrão para a instituição familiar. Esse é o plano de fundo de The Beginners: um argumento que se sugere como o ditame para as dinâmicas objetivadas no filme. Um plano que fala da crudeleza velada com a qual são tratadas as relações e os fenômenos sociais que não concordam com aquele padrão estático e incontestável pincelado nas reflexões de Oliver.
The Beginners tem como acessório fundamental a relação de Oliver com Ana (Mélanie Laurent), uma atriz francesa que, ao seu modo, também atravessa por crises existenciais. É no envolvimento desses dois personagens que se aprofunda o que, digamos assim, podemos chamar de “a moral do filme”. O romance de Oliver e Ana é intensamente marcado pelos traumas familiares que esses indivíduos, com destaque para o padecimento de Oliver, carregam para suas vidas adultas. O casal de namorados não é capaz de escapar da sombra de seus pais, exemplos práticos do fiasco irreversível que pode ser a vida conjugal. Estão, portanto, embargados pelo medo de principiar naquela que pode ser a única tentativa certa de alcançar a felicidade - tão sólida é a herança maldita de seus progenitores. Psicanálise pura.
A presença marcante de Laurent, e não só isso, como também toda a atmosfera fluída e a sensação de que o filme foi gravado em grande parte sob aquela orientação revolucionária de “ideia na cabeça e câmera na mão”, faz com que, em muitos momentos, The Beginners traga algo do prolífico cinema francês dos anos 1960 e 70.  Mike Mills, ao que tudo indica, concebeu esse filme como um belo tributo à Nouvelle Vague: impossível não lembrar de filmes como A band apart (Jean-Luc Godard, 1964) ao assistir a sequência em que o casal protagonista vai a um clube de patinação, cria caso por causa do cachorro de estimação de Oliver, anda de patins pelas ruas de Los Angeles e finda, ainda sobre os patins, num passeio pictórico pelo corredor de um luxuoso hotel. 
O filme é muito bom. Não vou contar o final. Pra isso existem os DVDs nas locadoras e os arquivos disponíveis na web que podem trazer pras suas vidas, muito melhor do que este meu texto, a beleza e as verdades nem sempre belas que The Beginners encerra em si.
Amor,

Wyncla.   

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Cravos da Libertinagem, o logo.



Logo do Cravos criado por um amigo meu, publicitário de Itaituba, Clóvis Guedes. O interessante é que não foi uma encomenda. Clóvis conheceu o coletivo através do blog e daquilo que eu com ele conversei. Gostou da ideia e resolveu colaborar com a arte na construção de nossa marca. 
Acredito que seja esta a vibe essencial do grupo: uma rede pra difusão da arte, orientada pela liberdade. O fato de termos a logo pensada pelo Clóvis, um cara que, por estar em outro município, tem uma ligação relativamente indireta com o coletivo, demonstra bem isso. Ademais, essa colaboração mostra que nosso movimento tá conseguindo tocar e inspirar as pessoas. Esperemos que seja a primeira de muitas produções que, por meio do Cravos, vai ganhar espaço e levar as nossas ideias pro mundo.  


     Três e quarenta e cinco da manhã; eu estou no banheiro. Passei o dia parecendo que dentro de mim havia umas cem mil agulhas machucando meu empobrecido e cansado coração. Insuportável. Apesar da babaquice generalizada, querida, eu ainda consegui me manter são, na medida em que isso é possível, é claro.
     Deixo a água percorrer todo o meu corpo. Concentro-me em sentir cada pingo do chuveiro em meu corpo, pois isso me faz esquecer brevemente das porras das cem mil agulhas que inutilizam meu coração gradualmente. Deito em minha cama paudurecente*, mas do que adianta se eu não tenho com quem foder? As bebidas não me proporcionam prazer nenhum e o cigarro agora é apenas um passa-tempo ridículo.
     Lembro que eu costumava sorrir e o dia era radiante e colorido quando estávamos juntos. Entretanto, ultimamente, nem me lembro qual o som do meu sorriso, quais são as cores que existem além de preto e branco. Ainda estou com o pau durão, mas não sinto vontade de gozar, não sinto amor.

Ass: Viesczy

*Paudurecente: ereção saudável; coloquialmente, ficar de pau duro.

domingo, 15 de abril de 2012

O Encontro do Rock com a Inteligência




Dia desses, assisti o Jô Soares e vi um metaleiro que se tornou um grande cantor de ópera. Sujeito simples, agradável e muito inteligente. O cantor revelou-se ouvinte do rock apenas no final, causando admiração. Lembrei imediatamente de umas tribos que falavam coisa do tipo o do por que “que todo roqueiro se acha inteligente”?! Esta afirmação, todo amante dos Yardbirds e Led Zeppelin confirma: achamo-nos, de fato, (mais) inteligentes.

Escrevo este texto para demonstrar que não se trata de auto-proclamação ou arrogância, mas, sobretudo, um fato que tem origem nas dinâmicas da realidade, na experiência concreta. Por isso mesmo se trata não de uma verdade absoluta e sim de uma tendência social. 


A Rotina não ajuda


O primeiro fato influente é a própria música, sua batida, sua lógica. Os cientistas já perceberam que a rotina vicia o cérebro, torna-o "preguiçoso": impede à criatividade, o raciocínio, a abstração. Como o cérebro pode abstrair numa música de pagode que repete a mesma frase 18 vezes em uma música de apenas uma estrofe? Cláudia leite ainda não acordou para esta realidade. A música tem-se empobrecido: letras óbvias, músicas repetitivas, simples demais, batidas sem surpresa. Uma merda é claro. 


Já o rock é complexo: as letras e músicas valorizam a surpresa, a desconstrução da lógica musical, a mistura, a letra de mensagens qualificadas. Um solo de Jimi Hendrix ou uma música desconcertante do The Clash revolucionam, surpreendem, assustam. Resultado: massa cinzenta ativa.


The Clash: Revolution Rock, it is a brand new Rock. I said: a bad, bad Rock, this here Revolution Rock. 








 A curiosidade no rock

 O segundo aspecto é que o rock estimula a busca de conhecimento. O movimento Punk Rock, por exemplo, leva a juventude a conhecer teorias revolucionárias, ou que se consideram como tal, como o marxismo e o anarquismo; Blind Guardian leva seus fãs a ler toda a obra de J.R.R. Tolkien (livros enormes e literatura vasta); Kiko Loureiro, além dos solos da Angra, nos mostra a música clássica e outros estilos dedilhando a sua guitarra. A música de inspiração Dark Wave me levou, por exemplo, a Robert Smith do The Cure (um poeta massa do Post-Punk, recomendo). 

Ou seja: é um estilo que estimula o intelecto, a curiosidade, a busca de informações, de teorias e explicações. Isto, por outro lado, não é uma dádiva do Fantasmão ou de Joelma. O rock é um estilo que sua lógica musical expulsa a rotina tendo por consequência o desenvolvimento cerebral. Além do mais, as letras em inglês, por exemplo, não só atuam pela positiva na busca pelo domínio de outras línguas como também estimulam a abstração (algo que a cultura globalizada limita). 

Há outro aspecto importante: é um estilo que estimula a liberdade sexual. A curiosidade também aí faz a diferença. A liberdade sexual que proporciona o rock já é estudado na psicanálise como fator de uma ampliação da consciência. A relação do indivíduo com o sexo altera o pensamento. 

Empiricamente, muitos perceberam, mesmo sem uma explicação, um talento intelectual especial daqueles que apreciam um bom Rock & Roll, como os Stones o The Who. Hoje não ando sempre de preto, não vou a ambientes típicos de um roqueiro, não toco guitarra e ainda amo Samba e MPB – e provavelmente continuarei amando. Mas no Notebook tem que ter uma boa quantidade de bytes destinados a um som mais violento e – veja só – relaxante.


quinta-feira, 12 de abril de 2012

Sexta – 13 - Libertina...

Cravos da Libertinagem Apresenta: Sexta - 13 - Libertina ...
... Uma sexta estúpida,
com bandas escrotas,
poesias esdrúxulas e filmes decadentes ...



Se você for vir, pegue o dinheiro que seria para sua entrada
e traga o seu vício ( e compartilhe ).
Traga também sua poesia para recitar e colocar no varal.


UFOPA, Campus Rondon, às 22h.


Link do Facebook:https://www.facebook.com/events/399552463403280/399589570066236/?notif_t=plan_mall_activity

quinta-feira, 5 de abril de 2012




Para você, que nunca vai ler isso...

     Então foi só isso, é claro. Você sempre dizia que me mataria, mas agora, que me torturou até a penúltima gota de sangue, não tem coragem de apertar o gatilho e tirar a última. Pior do que a morte é viver morrendo aos poucos(thank you very much, fuck you too). Esse não é um texto de tristeza onde as pessoas começam a refletir nas experiências ridículas que tiveram, apesar de ser um funeral, afinal, alguém morreu. 
   Não consigo mais lidar com a criatividade patológica dos mentirosos e agora umas dessas pessoas morreu, mais essa. Sentirei saudades desses desafortunados, maravilhosos cretinos. A chuva leva na lama todo o lixo e agora ela está indo junto.
     Você não podia fugir e me fez ficar nessa cidade escabrosa. A gente viveu como um casal evidentemente morto durante todo o tempo, tal como no mundo estranho de Jack onde ele vivia com Sally. Eu lia suas cartas e lá estavam escritas mentiras convenientes de eterna solidão. Você sempre me chamou de canalha, mas, querida, é você quem nunca deixará de ser uma vaca. Aquelas tardes - onde a lucidez não passava de fantasia, onde o vinho era a consciência, onde a música era a arte e onde o amor era a solidão - foram pintadas nos seus quadros surreais com meu sangue no jardim da sua casa.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Despertar

     É dificil escrever palavras bonitas, sobretudo ultimamente. Palavras, como dizia Graciliano, não foram feitas para enfeitar e, sim, para dizer. Enfim, as aulas da universidade começaram há quase dois meses, mas parece que só agora começaram realmente. Assisto friamente às pessoas caminhando no corredor e penso na diversão que seria ter uma espingarda e sair mirando pra esses patinhos formados na minha imaginação. Não que eu seja um psicopata - longe disso. Conversei com Lili ontem e ela me contou uma história. Acho legal contá-la aqui. Ela não vai achar ruim, já que Lili é apenas um codinome. 

     "Tudo começou quando meus pais, no domingo, foram para a praia. Eu fiquei em casa sozinha. Como isso era raro, decidi pegar as bebidas do meu pai e mandar 'pra dentro'. Era muito mais forte que as bebidas que eu estava acostumada e, assim, não demorou muito pra eu ficar tonta. 
     Fui tomar banho. Sai do banheiro pelada mesmo, afinal não tinha ninguém em casa. Vi meu cachorro em frente a porta do meu quarto, então o chamei para vir deitar junto comigo. Estranhamente, ele veio fuçar minha buceta. Eu fiquei assustadíssima, mas relaxei e ficou bom. Não sabia o que pensar e sem pensar fiquei de quatro fazendo com que o cão subisse em cima de mim. Foi ótimo."

     Fiquei impressionado. Nunca havia conhecido alguém que tinha feito com um cão. 
     Se a universidade parece que começou agora é por causa da chatice imensa que começou a preencher o vazio que eu tinha quando as aulas começaram. Hipocrisia, melancolia, mentira, Infame inocência. Se a minha mente pudesse sozinha dizer o que tem vontade, ela diria um foda-se que daria de ouvir na puta que pariu.

terça-feira, 20 de março de 2012

Drogado por Madonna: resenha de MDNA, o novo álbum da diva mais libertina do pop

Há várias formas de escrever sobre a música de Madonna. É possível tratar seus trabalhos recentes através de comparações com seus inúmeros sucessos anteriores, refletindo acerca das profícuas autorreferências dessa artista, tamanha é sua bagagem profissional. Outra maneira é discutir sua música pelo viés técnico, através da análise do trabalho dos produtores envolvidos – exercício que permite, também, uma reflexão do próprio cenário pop em si. As músicas de Madonna podem ser estudadas, também, pela tônica ideológica que envolve a atitude de uma mulher que sempre esteve à frente de seu tempo e ao lado de causas sociais. Ao longo de toda sua carreira, usando a arte como arma, Madonna se envolveu no combate a determinadas formas de opressão contemporâneas, principalmente no que se refere às questões étnicas e de gênero. Neste texto, atenho-me a apresentar uma reflexão que evita tratar MDNA (Universal Music, 2012), o novo álbum de Madonna, através de uma abordagem feita somente para o paladar dos fãs. Considerando o perfil dos leitores desse blog, proponho uma resenha cujo escopo é falar do trabalho artístico registrado no MDNA, desenvolvida a partir da visão de um cara ligado em música e direcionada para pessoas que sabem reconhecer uma boa obra de arte quando dela diante estão. Outro motivo que me leva a publicar sobre Madonna neste blog é o alinhamento que eu percebo entre a postura dessa artista e o ideal que alimenta o Cravos da Libertinagem: afinal de contas, quem, no mundo pop e melhor do que essa poderosa senhora, foi a mais contundente personificação do espírito libertino?

O título do novo disco de Madonna faz referência explícita à metilenodioximetanfetamina (MDMA) – a nomenclatura técnica do ecstasy, a pílula do amor. Essa polêmica alusão não é aleatória. Realmente, todas as faixas do álbum possuem um verniz de paixão e decadência, euforia e depressão – os estados extremos que podem ser incitados pela química e pelo amor. Toda a ampla experiência da artista, enquanto mulher e entertainer - sobretudo enquanto mulher- estão dispostas nesse álbum que flerta com o que há de melhor no cenário do electro pop europeu. MDNA conta com a relevante colaboração, dentre outros, de Martin Solvieg, Will Orbit, Benny Benassi e Mika.

As novas músicas de Madonna possuem, em parte, reminiscências de ritmos oitentistas que levam a audiência mais saudosista a repousar suas lembranças sobre os teclados futuristas do Human League, assim como nas batidas elegantemente tétricas do New Order. Essa característica do disco aproxima Madonna dos músicos contemporâneos mais alternativos, (Yeah Yeah Yes, Lady Hawke, La Roux e Alphabeat, por exemplo) cujos trabalhos são entretecidos pelo pastiche, alimentado pelos ícones do pop rock os quais, em “priscas eras”, compunham a realeza da música popular mundial. (Michale Jackson, Queen, David Bowie, Kate Bush, Depeche Mode, The Cure e, como não poderia deixar de ser, a própria Madonna são algumas dessas referências). MDNA, em alguns momentos, soa totalmente noventista, trazendo faixas que remontam ao rock high tech de bandas como Garbage e The Cardigans, sem falar da sonoridade sempre sofisticada e, nada obstante, atemporal que lembra o álbum Ray Of Light da própria Madonna, um dos discos de música eletrônica mais aclamado pela crítica mundial e vencedor de quatro Grammys. Esses elementos mais experimentais fazem de MDNA a trilha sonora quase perfeita para um gueto musical, perdido no recôndito da área industrial de alguma metrópole na Europa Setentrional. Algumas músicas desse disco tem o poder de transportar o ouvinte mais sensível para um pub instalado em um metrô desativado de Bruxelas, espaço que poderia ser o palco perfeito para apresentação de bandas como Bitch Boys e Kraftwerk.

No entanto, MDNA, sugere-se, também, muito alinhado ao que há de mais atual na cena do dance pop. Não à toa, principalmente as produções de Benassi, estão explicitamente orientadas para a pista de dança e integrarão, muito facilmente, a lista dos hits mais quentes que farão bombar as baladas em sítios mais ordinários da música eletrônica, como é o caso das praias luxuriantes de Ibiza. E nesse aspecto, na versatilidade da obra, está assente a magia, não só do mais recente trabalho de estúdio de Madonna, mas de todo o conjunto de sua obra: o poder de criar peças de arte, as quais, coerentes, dialogam tanto com undergraundo quanto com o meanstream. Afinal, são poucos os artistas que conseguem, sem parecerem imaturos ou pedantes, combinar boogie woogie com sinfonias dannyelfmanianas, migrando, em uma só música, da despretensão pueril típica de grupos como as Spice Girls para a atmosfera sombria e rebuscada dos filmes de Tim Burton.

Apesar de fundamentar-se na história individual de Madonna enquanto compositora e produtora de música, MDN não é “mais do mesmo”. É antes a prova de que ela, a rainha incontestável do pop, é capaz de surgir cada vez mais como um diferencial meio aos artistas do ramo que são, confessadamente, seguidores do caminho que essa superstar criou. A despeito de todas as injúrias, comparações e barracos entre os fãs, MDNA mostra uma musa pop que em nada remete ao que suas jovens “concorrentes” produziram até então. Com seu mais recente trabalho, Madonna, inspirada pela decadência das construções sociais – o amor é uma das mais representativas entre elas nesse álbum – e apoiada pelo vigor da juventude de músicos ávidos pelo novo, pelo incomum, apresenta aquele que, arrisco por minha conta dizer, um dos melhores discos de sua brilhante e libertina carreira: MDNA !

Quem tiver interesse, pode ouvir MDNA neste link: http://madonnaonline.mtv.uol.com.br/2012/03/19/ouca-aqui-o-album-mdna-completo/

sábado, 10 de março de 2012

Não mata, mas faz mal


     Eram sete e meia da noite e eu estava saindo da universidade. Tinha sido um dia, na maior parte dele, triste. Eu cheguei na sala às sete e quinze da manhã e ela já estava lá, sentada onde costumava sempre ficar. Ela estava tão bonita e isso me fez sentir mal. Ela não me queria e isso estava claro, evidente. Eu não queria ter ido assistir aula, mas queria ir ver Ludi, mesmo que isso me fizesse mal. É agoniante ter que olhá-la sempre que ela faz algum comentário, mas não olhá-la também é inevitável.
     Não importava o máximo que eu fizesse por que nela não despertava o minimo de sensibilidade, afeição ou correspondência. Então, depois da universidade, decidi pegar o ônibus e ir direto para o bar mais louco da cidade( Empire of Indie) e não deixar que tristeza nenhuma me afetasse ainda mais. Tomei algumas cervejas, pois, afinal, eu estava num bar e logo tudo se transformou num único espaço. Encontrei, mais tarde, com Bárbara, uma velha amiga. Passamos algum tempo longo conversando, pois o tempo que conversamos foi o bastante para terminar uma garrafa de conhaque inteira. Conversávamos tentando manter uma amizade que não existia mais.
     O último gole da garrafa foi da amiga de Bárbara. Daí, enquanto éramos três, o tempo foi curto. Bárbara apenas me apresentou sua amiga e foi embora, pois tinha que ir. Perguntei se Lili não ia junto, se ia ficar só, e a resposta foi que ela não ficaria sozinha e me beijou. Olhei para trás e surpreendi Ludi que virou rapidamente quando viu que eu percebi que ela estava a me olhar.
     O dia tinha sido, em sua maior parte, triste. Agora tinha um tico de fracasso, mas também uma felicidade que me envenenava.

Feminismo e ciência: uma visão sociológica



A Revolução Francesa de 1789 reformulou a sistema político vigente da França, através de uma intensa mobilização social que tinha como princípios a liberdade, a solidariedade e a igualdade. Mesmo tendo sido fomentada pela nobreza de tais sentimentos, a proclamação dos direitos universais, resultante dessa revolução, não incluiu as mulheres em pé de igualdade em suas disposições. Foi diante dessa injustiça, centrados em uma intensa crítica às origens da democracia, que foram constituídos os primeiros movimentos feministas do mundo. Desde então, período historicamente marcado pelas revoluções democráticas, a mulher, organizada em dinâmicas e grupos de contestação, vem unindo forças para lutar em função do reconhecimento de seus direitos, desafiando os paradigmas excludentes e obsoletos da sociedade em que vive.

A partir da segunda metade do século XX, aliado à produção intelectual, o feminismo deixa de ter um caráter simplesmente reivindicador, para se tornar um movimento mais politizado e satisfatoriamente munido no combate às estruturas de dominação_ entre elas, a própria ciência. Em relação a esse aspecto do movimento, o desenvolvimento científico que acarretou na criação de novas tecnologias reprodutivas foi o um dos focos principais das análises e questionamentos das cientistas feministas.

A atualidade apresenta aspectos interessantes no âmbito das novas configurações da família e dos meios de reprodução humana. No quesito maternidade, a ciência tem produzido recursos que possibilitam à mulher um variado leque de opções para contracepção e até mesmo para fertilização do óvulo. Em uma análise superficial seria fácil concluir que todos esses avanços têm ajudado a mulher a administrar melhor sua saúde, dando-lhe maiores possibilidades para o controle de uma gravidez indesejada, ou mesmo, em casos de infertilidade, a tão sonhada concepção de um embrião. Porém, para muitas intelectuais feministas, como a antropóloga Naara L. de Albuquerque Luna, a aplicação de técnicas reprodutivas merece uma atenção mais minuciosa, uma vez que ainda não são claros os efeitos e os custos reais de tais métodos.

Muitas mulheres são fortemente impelidas pela necessidade de procriar. É justamente fundamentada nesse desejo que a indústria farmacêutica tem desenvolvido e propagado técnicas e medicamentos capazes de instaurar na consciência coletiva a idéia de que, a partir de um determinado investimento, a gravidez se torna um produto fácil de se alcançar. O confronto com esse comportamento é o que tem motivado muitas feministas à análise dos procedimentos medicinais ligados à fertilidade prescritiva. Em observação a essas preocupações é notória a necessidade de se estudar esses fenômenos, para então saber em qual medida eles são realmente necessários à sociedade.

No sistema capitalista, de acordo com a abordagem marxiana, a lógica da economia se dá em favor da maximização dos lucros dos proprietários dos meios de produção. Ou seja, o mercado não se apóia somente nas necessidades existentes da sociedade, mas também incita a criação de novas demandas, que vão incutir nos consumidores o desejo pela aquisição de produtos e bens que não lhe são verdadeiramente essenciais. Tendo como fundamento essa linha de pensamento, pode-se afirmar que o fenômeno relacionado à propagação de técnicas que, em casos de esterilidade, prometem o milagre da concepção são na verdade meios pelos quais determinados segmentos do mercado (leia-se indústria farmacêutica e prestadores de serviços ligados a área de saúde no setor privado) impõem suas leis de dominação.

Hoje, o movimento social que visa à valorização da “mulher-sujeito”, e não somente ele, como também todos os segmentos capazes de produzir o saber científico precisam estar atentos à forma como as questões de gênero são manipuladas pelos mecanismos opressores da sociedade. É preciso estar ciente de que os comportamentos considerados inofensivos e até mesmo aqueles que apresentam certa “utilidade social”, precisam ser estudados de forma a elucidar todos os seus meandros. Em uma sociedade tão complexa como a atual, é imprescindível estar a par de como e por quem foram compostas as historicidades manifestas nos mais variados fatos formadores da realidade.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Reflexão sobre uma perspectiva na cultura local: O jovem e o MangueBit



Há mais de 15 em Pernambuco, jovens entediados por não sentirem-se representados na cena musical na cidade de Recife, decidiram criar sua própria cena, produzindo suas próprias festas, músicas e ideologias, seguindo a total ideia do "do it yourself". Estes jovens misturaram a música tradicional de sua terra (Maracatu) com outros estilos e ritmos musicais e criaram seu próprio som e movimento o "Mangue Bit" (Uma mistura das características locais em difusão com o global).
O Mangue Bit ficou bastante conhecida com as bandas Mundo Livre S/A, Sheik Tosado, Mestre Ambrósio e Chico Science & Nação Zumbi, está ultima... difundiu-se de maneira atômica e levou seu "Maracatu atômico" das ruas de Olinda para o Brasil e para o Mundo. O vocalista do grupo "Chico Science" (Francisco de Assis França) tornou-se um ícone musical, apesar de ter lançado somente 2 discos com a Nação Zumbi, pois faleceu em 2 de Fevereiro de 1997 em um trágico acidente de carro.
O grande fato entre Science, o Maracatu, o Mangue Bit e a juventude é justamente a Revolução feita por essa galera que sentia sede por sua própria identidade, uma que não fosse somente global, ou somente local, não uma padronização feita pelos moldes midiáticos e industriais, mas sim uma identidade singular, empermeada de pluralidades e subjetividades, tiradas de sua realidade local, de suas características artísticas oriundas de um passado quase esquecido, e tudo isso fazendo um dialogo com o global, com a "Modernidade", enfim com o Mundo.
Hoje passaram-se mais de 15 anos que foi criado o Mangue Bit, 15 anos que Chico Science faleceu, percebemos que boa parte da juventude está apática, não existi uma preocupação na criação de perspectivas próprias, cruzando as barreiras do imaginável, assim como fez a "galera" do Mangue Bit. Será que realmente temos que aceitar tudo que a Mídia e o Mercado Musical nos empurra? Uma música que ouvimos hoje e amanhã esquecemos, não é uma coisa que nos enche de expressões variadas todas as vezes que ouvimos. Enfim, será que deixaremos o Carimbó, Gambá (me refiro ao estado do Pará) e outros ritmos tradicionais morrerem junto com seus últimos mestres?

Para saber mais:
http://memorialchicoscience.com (Sobre Science)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manguebeat (Sobre O Mangue Bit)
http://www.blog.fabiocavalcante.com/ (Baixar música regional)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Memórias da Cabanagem: um momento.

Filme realizado com imagens registradas na segunda edição da Caravana da Memória Cabana, ocorrida em Janeiro de 2012, nas comunidades de Cuipiranga do Tapajós, Vila Amazona e Guajará (Santarém, Pará). Esse evento teve como objetivo celebrar o aniversário da tomada de Belém pelos cabanos, ocorrida em 07 de Janeiro de 1835. A cabanagem foi um movimento insurgente advindo das bases da sociedade amazônica, nascido em função das profundas assimetrias de poder estabelecidas na época do período colonial. O encontro é fruto do empenho dos movimentos sociais santarenos em manter viva a memória da cabanagem, considerada por alguns estudiosos como a maior revolta popular da história da América Latina. Maiores informações sobre os estudos e ações realizadas sobre a cabanagem na região, ver o blog: http://caravanacabana.blogspot.com/

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012


Ela pega mais uma bebida e acende algum cigarro, caminha pelo corredor ouvindo aquela música “come on, come on, come on, come on, now, touch me, baby” ela canta junto... Dança na frente do espelho, de forma levemente sensual, e está bem. Caminha até a porta, coloca um sorriso falso no rosto e cumprimenta quem está chegando, “malditas visitas” sussurra para si mesma e prossegue sorrindo falsamente, aquele sorriso forçado propositalmente, porque é de sua vontade que percebam que não vieram em boa hora. Olha para o gato que brinca com a borda da toalha da mesa e por um tempo se esquece de onde está ou das visitas sentadas no sofá cor de vinho... ela não sabe quantos minutos se passaram desde que eles chegaram, estão ali desde quando? Horas, dias, meses, anos? E se pergunta se ainda tem bebida no seu copo, olha paras mãos, e la está um copo cheio, é, apenas alguns minutos. Eles conversam entre si, “sobre o que estão falando?” ela tenta se concentrar naquelas gesticulações, mas depois de continuar sem entender nada, desiste. “Yeah, yeah” ouve no fundo, “com licença” ela pede e se levanta, sem esperar a resposta, está pouco se fodendo se eles desejam que ela continue ouvindo (apenas ouvindo, porque não prestou atenção em absolutamente nada) o que quer que estejam falando, aumenta o volume e “piece of my heart” está rolando, naquela voz rasgada e sexy de uma das suas cantoras preferidas, balança a cabeça no ritmo da música e logo está balançando o corpo de um lado para o outro, sem se importa com quem está olhando ou não. Canta. Dança. Bebe. Acende outro cigarro. As visitas foram embora, sem se despedir. A maioria das pessoas a chateiam profundamente, ela tenta não ficar brava, já que estas pessoas não têm culpa de serem tão desinteressantes, mas ela não as quer por perto, ora. Aquela garrafa de bebida, o cigarro, a música, são para ela tão mais atraentes, liga para algum amigo com quem gosta de conversar, e logo estão nus, ouvindo boas musicas, logo mais estão fazendo sexo sem compromisso, apenas porque tiveram vontade. E ela está bem. Continua ouvindo a música, aumenta mais ainda o volume e continua sem a roupa porque gosta de dançar nua pelos corredores da casa, e ela está feliz, aquilo ali lhe faz feliz. Muitas pessoas não gostariam do comportamento dela, muitas pessoas achariam imoral e absurdo, mas isso só em um lugar onde a felicidade dela não importaria,no meu mundo não.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Entropia


  O dia tinha sido todo uma imensa chatice. Tinha assistido dois filmes que não me impressionaram nada, depois resolvi ler um livro. Li o primeiro capítulo e fiquei mais entediada ainda. A noite já estava vindo, então resolvi que não ia ficar em casa esperando que alguma coisa nova acontecesse. Vesti as roupas mais loucas que tinha, pus a maquiagem de maneira a ficar o mais extravagante possível e fui. No caminho recebi mais uma mensagem daquele garoto chato que vive me dizendo coisas sem nexo – idiota. Lá encontrei com as minhas amigas de sempre e fizemos o de sempre: nada, o mais do mesmo costumeiro.
     Fiquei agoniada. Ouvia minhas amigas com o máximo de atenção, mas não entendia nada do que elas diziam. Depois decidi que ia pra casa. Definitivamente, era um daqueles dias que eu deveria ter passado na cama deitada. Fui por um caminho mais longo, porém que não passava muita gente. Chorei. Entrei num conflito existencial sem nem saber qual era o motivo. Senti falta de alguém. Outra mensagem daquele garoto – idiota. Talvez não sentisse falta de ninguém.
     Quando estava chegando em casa, minha vizinha dá as caras na frente da casa dela. Ela estava pronta para sair e ia só. Falei “oi” e então ela me responde com uma pergunta brincalhona:
    • Chegar às onze da noite, aplicadinha como você está, lhe trará insônia. Vem comigo?
    • Pra onde?
    • Não sei, mas vamos sair.
     Mais cedo eu não queria sair, mas também não queria ficar em casa. Mas agora, estranhamente, eu queria fazer qualquer coisa. Não liguei para a simplicidade e até mesmo a falta de interesse do convite. Fomos então. A verdade é que não tinha lugar nenhum pra ir. Ela fumava e me espantei com isso. Nunca tinha ficado perto de alguém que fumasse e só o que eu sabia é que fumar causava câncer. No entanto, sabia que alimentos transgênicos também causavam câncer e era apenas disso que eu me alimentava. Ah, pedi um cigarro a ela. Quis saber a sensação, quis viver o momento.
     Ela ficava surpresa com cada descoberta minha e eu notava isso no semblante dela que demonstrava mais e mais interesse por mim. Estávamos numa praia a noite com as amigas dela. Eram inteligentes, interessantes, lindas.
     Num instante em que eu ria prazerosamente minha vizinha, inexplicavelmente, me beijou no rosto. Fiquei fria, sem saber o que fazer. Logo o beijo chegou na minha boca. Senti a mão dela passar entre as minhas pernas. Parecia que meu coração ia explodir. Mesmo se eu tivesse bebido uma cerveja escocesa eu não teria achado aquilo normal. No entanto, depois, naturalmente, eu vi que não estávamos fazendo nada errado. Eu a amava e amava todas as amigas dela também.
     Quando eu cheguei em casa pensei que eu podia ser lésbica. Entretanto, eu continuava a gostar de homens. Senti que eu podia ter todo mundo. Não entendia qual a necessidade de classificar as pessoas. Percebi que, pra mim, aquilo não tinha importância nenhuma. Depois daquela noite nada ia voltar a ser como antes – entropia.  

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

VI Encontro dos povos indígenas do Baixo Tapajós e Arapiuns: uma reflexão “libertina”



Durante os dias 27,28 e 29 deste Janeiro, parte do Coletivo Cravos da Libertinagem esteve presente no VI Encontro dos Povos indígenas do Baixo Tapajós e Arapiuns, que aconteceu na Aldeia de Muratuba, uma das comunidades assentadas no interior da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, no município de Santarém, Pará. Neste post, uma análise sintética do quadro geral observado durante os dias do evento, feita por mim, Wyncla, um dos integrantes deste Coletivo.
O encontro contou com a presença de representantes dos 12 povos que compõem o Conselho Indigenista Tapajós – Arapiuns (CITA), entre os quais fazem parte, apenas para citar algumas, as etnias Tapajó, Tupinambá, Borari, Cumaruara e Cara Preta. Diante do que se pode observar nos trabalhos encaminhados durante o encontro, a organização dessas comunidades se orienta para a formalização do reconhecimento de sua condição indígena. Essa luta é, nada obstante, atravessada pelo laborioso processo de identificação e demarcação das terras ocupadas por essas aldeias, assim como pela busca das garantias e direitos imanentes ao reconhecimento positivado da indianidade desses povos – direitos esses relativos aos bens e serviços especiais que aos indígenas são previstos pela Constituição Federal, no que se refere, principalmente, à saúde e à educação diferenciadas que o Estado deve ofertar a essas comunidades.
Rinaldo Arruda, em sua síntese acerca da situação dos povos tradicionais do Brasil, afirma que a colonização européia, tal como todos os outros processos de exploração econômica e de uso e ocupação da terra no Brasil, favoreceram um processo de miscigenação racial e cultural pautado pela marginalização das minorias étnicas, assim como pela espoliação, não só territorial, mas também identitária de indígenas e negros africanos. Os grupos humanos surgidos desse processo, que não eram mais indígenas e nem africanos foram, paulatinamente, compondo a parcela sertaneja e silvícola da população brasileira, assentada nos longínquos das florestas úmidas da Região Norte e do sertão árido nordestino, nas margens das instancias sociais, políticas e econômicas onde se estabelecia o centro do poder no país. Nesse quadro, criou-se, e vem se reproduzindo por muitas gerações, um povo mestiço, sem raízes culturais profundas, mas que, ao mesmo tempo, preserva elementos herdados por seus ancestrais, como aspectos de sua cosmovisão do mundo, determinadas técnicas de manejo dos recursos naturais, conhecimento tradicional relativos à homeopatia e, principalmente, práticas econômicas de base familiar. Nesses grupos, Arruda diz que podemos observar a constituição de uma categoria sociocultural que em sua obra ele passa a tratar como “sociedades de cultura rústica”.
Através de uma observação superficial, os povos do CITA são grupos humanos passíveis de serem classificados dentro da categoria proposta por Arruda, ou seja, como integrantes de sociedades culturalmente rústicas – grupos que são tradicionais, mas não necessariamente indígenas, haja vista os elementos fenotípicos das configurações socioculturais desempenhadas por essas comunidades serem insuficientes para ratificar essa condição. No entanto, esta é uma afirmação resultante de uma observação simples e apenas assente na realidade fenomênica objetivada no encontro. Portanto, uma conclusão precisa acerca da idianidade desses povos só será possível mediante estudos mais profundos, que lancem mão de um criterioso rigor metodológico. O objetivo deste post é, nada obstante, refletir a cerca da luta travada por essas comunidades – uma dinâmica evidente no encontro – independentemente da corroboração científica da sua auto-afirmação enquanto povos indígenas, até por que, antes de qualquer elucubração cientificista sobre o tema – uma reflexão que sempre incorre no risco de gerar resultados positivistas, ou mesmo sociologias espontâneas, desnecessárias ao mérito da análise aqui pretendida -, o fato dessas comunidades terem se auto-identificado como aldeias indígenas já é válido para que a legitimidade dessa condição seja, ao menos, amplamente considerada.

Difícil é, entretanto, empreender esta análise sem a constatação de que os povos do CITA têm pela frente uma árdua batalha para o reconhecimento de sua cidadania especial. Essa dificuldade acontece em função da complexidade havida na identificação do caráter particular e diferenciado da condição indígena desses grupos humanos, vez que os elementos constituintes de sua cultura já foram, aparentemente, profundamente afetados pelo contato com a sociedade envolvente, sendo possível, até mesmo, afirmar que essas pessoas já encontram-se, de forma quase plena, absorvidas pelo mundo exterior e, consequentemente, apartadas daquilo que se poderia chamar de sua essência original – o elemento, que, por sinal, seria a causa para o tratamento distinto dessa população.
No encontro foi possível constatar, também, o conflito dialético instaurado entre os povos do CITA e o Estado - nesse contexto, representado pela FUNAI. De acordo com as lideranças presentes, esse órgão não tem promovido um trabalho satisfatório de assistência especializada desses indígenas, vez que estes ainda não são formalmente reconhecidos como tais. Estabeleceu-se, nada obstante, um confronto de interesses onde a luta pelo acesso às garantias previstas aos indígenas tem sido o mote principal. Nessa lógica, para o Governo Federal, a criação de mais terras indígenas implica em um processo de “engessamento” do desenvolvimento nacional, pois a efetivação desses direitos representa obstáculos para as incursões do projeto capitalista na Amazônia – um movimento que incide, principalmente, sobre as riquezas naturais dessa região.

Mesmo que a ciência ou a política não possam classificar essas comunidades enquanto aldeias indígenas, diante da miscigenação através da qual se conformaram esses assentamentos humanos, a luta pelo direito a terra - que nesse sentido é a mesma luta que se faz em busca da dignidade humana - em que eles estão imersos é legítima. A probabilidade da auto-afirmação dessas comunidades não ser reconhecida pelo mundo objetivo não apaga o fato de que elas representam as categorias sociais historicamente marginalizadas no Brasil, e, portanto, que são credoras das relações socioeconômicas estabelecidas nesse pais – uma dinâmica que propiciou a concentração de riquezas por meio da espoliação de etnias inteiras, das quais derivam a população alvo desta análise.
A política indigenista é fundamentada principalmente pela auto-afirmação dos povos, ou seja, a consciência de sua identidade indígena ou tribal é critério basilar para o tratamento distinto desses grupos. Não é possível, porém, descartar a hipótese de que esse critério tem servido como recurso que essas comunidades – e aqui incluem-se também as sociedades de cultura rústica tratadas por Arruda - estabelecidas em contextos econômicos acumulativistas, usam para sobreviver, não apenas no sentido abstrato, ou seja, no que se refere à manutenção da tradição (aspectos étnicos), mas, antes de tudo, no sentido material da existência. E nesse ponto, surge uma dinâmica muito complexa, onde os valores imiscuídos na luta indigenista merecem uma profunda reflexão. Sabe-se, porém, que a dialética havida na realidade do movimento indígena não deve ser tratada de forma meramente burocrática, caso contrário, qualquer possibilidade da promoção de justiça social junto a essas camadas sociais desfavorecidas seria arruinada, pois assim se reproduziria a lógica imposta pelo mundo moderno: uma lógica orientada pela inversão dos valores humanos, na qual o acúmulo da riqueza material subjaz o enaltecimento do espírito.

Fotos: Mazzile Tavares e Wyncla Paz.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Desencanto

     O Sol está se pondo, mas eu tenho a sensação de que ele vai demorar mais que doze horas pra nascer novamente.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Uma poesia inútil


Sem título”
Minha mão adormece
meu cérebro processa
aos calares infames do mundo
que deixa todos iguais: loucos!!

Se dizemos agora
calaremos depois.
Toda desculpa é uma facada nas costas.
Toda derrota é um fardo.

É tão simples e tão cego,
tão irreal e tão sincero,
tão normal é do meu ego,
é ilegal, mas eu te espero.!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Nenhum dia é igual


     A falta de sentido em tudo era tão evidente que nada me atraía atenção. Acordava todas as manhãs pensando que tinha acordado num mundo completamente diferente de onde eu havia dormido. Mas depois de alguns segundos ouvindo os pássaros, a minha irmã conversando com a mãe e então eu percebia que eu não estava em outro mundo e tudo voltava ao normal.