O dia tinha sido todo uma imensa chatice. Tinha assistido dois
filmes que não me impressionaram nada, depois resolvi ler um livro.
Li o primeiro capítulo e fiquei mais entediada ainda. A noite já
estava vindo, então resolvi que não ia ficar em casa esperando que
alguma coisa nova acontecesse. Vesti as roupas mais loucas que tinha,
pus a maquiagem de maneira a ficar o mais extravagante possível e
fui. No caminho recebi mais uma mensagem daquele garoto chato que
vive me dizendo coisas sem nexo – idiota. Lá encontrei com as
minhas amigas de sempre e fizemos o de sempre: nada, o mais do mesmo
costumeiro.
Fiquei agoniada. Ouvia minhas amigas com o máximo de atenção, mas
não entendia nada do que elas diziam. Depois decidi que ia pra casa.
Definitivamente, era um daqueles dias que eu deveria ter passado na
cama deitada. Fui por um caminho mais longo, porém que não passava
muita gente. Chorei. Entrei num conflito existencial sem nem saber
qual era o motivo. Senti falta de alguém. Outra mensagem daquele
garoto – idiota. Talvez não sentisse falta de ninguém.
Quando estava chegando em casa, minha vizinha dá as caras na frente
da casa dela. Ela estava pronta para sair e ia só. Falei “oi” e
então ela me responde com uma pergunta brincalhona:
Mais cedo eu não queria sair, mas também não queria ficar em
casa. Mas agora, estranhamente, eu queria fazer qualquer coisa. Não
liguei para a simplicidade e até mesmo a falta de interesse do
convite. Fomos então. A verdade é que não tinha lugar nenhum pra
ir. Ela fumava e me espantei com isso. Nunca tinha ficado perto de
alguém que fumasse e só o que eu sabia é que fumar causava câncer.
No entanto, sabia que alimentos transgênicos também causavam câncer
e era apenas disso que eu me alimentava. Ah, pedi um cigarro a ela.
Quis saber a sensação, quis viver o momento.
Ela ficava surpresa com cada descoberta minha e eu notava isso no
semblante dela que demonstrava mais e mais interesse por mim.
Estávamos numa praia a noite com as amigas dela. Eram inteligentes,
interessantes, lindas.
Num instante em que eu ria prazerosamente minha vizinha,
inexplicavelmente, me beijou no rosto. Fiquei fria, sem saber o que
fazer. Logo o beijo chegou na minha boca. Senti a mão dela passar
entre as minhas pernas. Parecia que meu coração ia explodir. Mesmo
se eu tivesse bebido uma cerveja escocesa eu não teria achado aquilo
normal. No entanto, depois, naturalmente, eu vi que não estávamos
fazendo nada errado. Eu a amava e amava todas as amigas dela também.
Quando eu cheguei em casa pensei que eu podia ser lésbica.
Entretanto, eu continuava a gostar de homens. Senti que eu podia ter
todo mundo. Não entendia qual a necessidade de classificar as
pessoas. Percebi que, pra mim, aquilo não tinha importância
nenhuma. Depois daquela noite nada ia voltar a ser como antes –
entropia.