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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Entropia


  O dia tinha sido todo uma imensa chatice. Tinha assistido dois filmes que não me impressionaram nada, depois resolvi ler um livro. Li o primeiro capítulo e fiquei mais entediada ainda. A noite já estava vindo, então resolvi que não ia ficar em casa esperando que alguma coisa nova acontecesse. Vesti as roupas mais loucas que tinha, pus a maquiagem de maneira a ficar o mais extravagante possível e fui. No caminho recebi mais uma mensagem daquele garoto chato que vive me dizendo coisas sem nexo – idiota. Lá encontrei com as minhas amigas de sempre e fizemos o de sempre: nada, o mais do mesmo costumeiro.
     Fiquei agoniada. Ouvia minhas amigas com o máximo de atenção, mas não entendia nada do que elas diziam. Depois decidi que ia pra casa. Definitivamente, era um daqueles dias que eu deveria ter passado na cama deitada. Fui por um caminho mais longo, porém que não passava muita gente. Chorei. Entrei num conflito existencial sem nem saber qual era o motivo. Senti falta de alguém. Outra mensagem daquele garoto – idiota. Talvez não sentisse falta de ninguém.
     Quando estava chegando em casa, minha vizinha dá as caras na frente da casa dela. Ela estava pronta para sair e ia só. Falei “oi” e então ela me responde com uma pergunta brincalhona:
    • Chegar às onze da noite, aplicadinha como você está, lhe trará insônia. Vem comigo?
    • Pra onde?
    • Não sei, mas vamos sair.
     Mais cedo eu não queria sair, mas também não queria ficar em casa. Mas agora, estranhamente, eu queria fazer qualquer coisa. Não liguei para a simplicidade e até mesmo a falta de interesse do convite. Fomos então. A verdade é que não tinha lugar nenhum pra ir. Ela fumava e me espantei com isso. Nunca tinha ficado perto de alguém que fumasse e só o que eu sabia é que fumar causava câncer. No entanto, sabia que alimentos transgênicos também causavam câncer e era apenas disso que eu me alimentava. Ah, pedi um cigarro a ela. Quis saber a sensação, quis viver o momento.
     Ela ficava surpresa com cada descoberta minha e eu notava isso no semblante dela que demonstrava mais e mais interesse por mim. Estávamos numa praia a noite com as amigas dela. Eram inteligentes, interessantes, lindas.
     Num instante em que eu ria prazerosamente minha vizinha, inexplicavelmente, me beijou no rosto. Fiquei fria, sem saber o que fazer. Logo o beijo chegou na minha boca. Senti a mão dela passar entre as minhas pernas. Parecia que meu coração ia explodir. Mesmo se eu tivesse bebido uma cerveja escocesa eu não teria achado aquilo normal. No entanto, depois, naturalmente, eu vi que não estávamos fazendo nada errado. Eu a amava e amava todas as amigas dela também.
     Quando eu cheguei em casa pensei que eu podia ser lésbica. Entretanto, eu continuava a gostar de homens. Senti que eu podia ter todo mundo. Não entendia qual a necessidade de classificar as pessoas. Percebi que, pra mim, aquilo não tinha importância nenhuma. Depois daquela noite nada ia voltar a ser como antes – entropia.  

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